Neto: «Amorim colocou-me como alguém que fosse a extensão dele»
Neto, Coates, ambos capitães, à conversa com Rúben Amorim (Sporting CP)

Neto: «Amorim colocou-me como alguém que fosse a extensão dele»

FUTEBOL29.05.202421:05

Treinador alvo de palavras especiais no adeus do central a Alvalade

- Privou com Rúben Amorim no balneário da seleção? Previa que ele se viria a tornar num treinador líder nato de uma equipa campeã?
- Quando o mister chegou existia uma ilusão muito grande do que podia trazer de diferente para nós que já não tivesse sido testado ou que não tivesse sido tentado para que as coisas corressem bem. E o mister realmente trouxe, muita exigência, muita exigência própria dele e um bocadinho também daquilo que eu falei que era a própria primeira entrevista que o mister fala de que vai manter-se para sempre, que é ‘e se corre bem?’. Em muitos momentos o mister espelhou o que qualquer sportinguista queria: vamos ganhar a qualquer campo. Vamos jogar à nossa maneira, vamos incomodar, vamos ser uma equipa muito chata, incómoda, uma equipa de verdadeiros de leões em campo, esfomeados, algo que é personificado aqui nestas taças e acho que realmente foi um virar de página. O mister tem muito do que é a sua mentalidade é hoje a mentalidade que respira Academia e é muito este ar ganhador, estar sem ser prepotente, mas de respeito que hoje existe pelo Sporting, pela grandeza que o clube sempre teve.

- Tem noção do impacto que teve no Gonçalo Inácio, Eduardo Quaresma, Essugo, Nuno Mendes, TT, mas também nos sócios?
-  Mentiria se dissesse que acredito que consigo ter a perceção maior do impacto que tive no Quaresma, mais a nível desportivo. Tudo o que depois se vamos apercebendo nas redes sociais, nas palmas, no momento da minha despedida em Alvalade. Recebi um pouco desse feedback. Da maneira que termino fico muito feliz por sentir, ou por me terem feito sentir parte de algo tão grande como foi Sporting, acredito que não só pelos títulos, existirá talvez um bocadinho de Neto na história de Sporting.

- A equipa viveu para este título?
- Sem qualquer tipo de dúvida, acho que depois acabasse por criar algumas interações uns com os outros, que é estarmos atentos a tudo, a tudo o que se diz, quando ganhamos mais vezes, quando somos declaradamente a melhor equipa no campeonato, começa a termos de não perder o foco. Mesmo os jogadores que tiveram muito impacto, como o Viktor, conseguiram ser sempre iguais.

Aproveito a oportunidade para a agradecer a toda a gente que me apoiou nestes cinco anos, que me fez sentir parte de um clube como este

- Muito se falou do que se foi o seu papel este ano. Como vestiu este papel de líder?
- Atendendo ao que foi o ano passado e o mister tinha-me dito com antecedência que acontecesse o que acontecesse ele queria que eu continuasse no próximo ano, foi algo que me deu muita força para enfrentar aquilo que seria um ano como foi 2003/2024. Tinha dois caminhos: ou ia viver todos os dias na academia com a desejo desportivo e aquela fome de algo que tenho cá dentro, que é a gente só tem valor quando joga, e ia obrigar-me a pensar só naquilo que era o plano desportivo, ou então poderia ter outro tipo de papel e poderia ser alguém positivo, com energia boa todos os dias, com todos os departamentos, ser alguém atento a tudo, a ser alguém influente até pela equipa técnica, porque no futebol às vezes basta um mau feedback, uma cara mais cerrada, uma energia mais negativa no ar e consegue espalhar-se isso para os jogadores, porque todos são diferentes. Eu, principalmente a partir de janeiro, em que foi talvez o momento mais emocional da época, já quase a aceitar a minha posição, muito com estímulos exteriores, de casa, familiares, do meu filho, que já referi, mas da ligação que tinha com todos os jogadores e perceber que nunca me iria perdoar chegar ao final e o Sporting não for campeão e o sentido que não dei tudo. A cada dia que estacionava o carro na Academia pensava, sim, podemos não ganhar este título, mas quase que colocava algo de responsabilidade individual nisto porque dependia de mim, seu entrava na academia sorridente, para abraçar toda a gente, ou entrava com cara fechada e a pensar se jogo ou não jogo. Muitas vezes temos de acalmar os demónios aqui dentro, temos de dizer calma, relaxa, isto agora é entre mim e a minha cabeça e a minha decisão é esta. E no final não podia restar mais orgulhoso. Percebemos que se aceitamos a nossa posição, também existe valor na nossa posição, acredito que isto tem um carimbo meu, da mentalidade, da crença de ter sido eu, o melhor Neto que podia ter sido.

- Quais são as últimas palavras nesta despedida?
- Aproveito a oportunidade para a agradecer a toda a gente que me apoiou nestes cinco anos, que me fez sentir parte de um clube como este. Agradecer ao presidente, agradecer ao Viana, que foi quem acreditou em mim para fazer parte deste projeto, agradecer a todos com quem convivi na Academia e, em especial, claro está, o mister Amorim, que chegou e automaticamente me colocou como um dos capitães e como alguém que fosse a extensão dele.